Vila Borborema recria simplicidade e aconchego do interior do Nordeste

Vila Borborema
A simplicidade e o aconchego que ainda existem no interior do Nordeste são representadas no Maior São João do Cerrado pela Vila Borborema. A Vila com 12 casinhas de fachadas coloridas, decorada com jardineiras floridas junto às janelas, cercas de madeiras e bancos de praça, encantou o público que lotou o espaço durante os três dias de festival.

Sabiá Canuto. Foto: Luana Rodrigues
As casinhas trazem em seu interior mostras de artesanatos. Em uma delas o cordelista e professor, morador de Ceilândia e com origens nordestinas, Alex Canuto, conhecido como Sabiá, expôs seus cordéis em folhetos.
“Tive a oportunidade de divulgar um pouco mais meu trabalho, e isso é tudo que um artista precisa, de apoio”, conta Sabiá, que fala ainda da alegria de ter participado do evento.
“Alegria por ser a cidade onde nasci e por ver meu trabalho contemplado num evento realizado nela e para ela. E nessa vila montada, essa “Ceilândia dos sonhos”, trabalharam outros tantos artesões, gente vendendo tudo que se imagina; inclusive fiz um amigo, seu Valmir, morador lá do Sol Nascente, que faz maravilhosas esculturas com material reciclável”, afirma.
“Minha alegria é de ver que a tendência do Maior São João do Cerrado na Ceilândia é crescer. Já é sem dúvida um marco na história dessa cidade, conquista importantíssima uma festa dessa proporção, para a valorização, sobretudo, da cultura de toda essa gente que construiu Ceilândia, gente tantas vezes desassistida”, conclui o artista que ressalta sempre a importância da valorização da cultura.
Seguindo pela rua decorada com bandeirolas e balões coloridos, os visitantes são recebidos no Coreto com música, poesia e alegria típicas da cultura popular brasileira. Sabiá, que participa do evento pela primeira vez, também subiu ao Palco do Coreto para apresentar seus cordéis e chamou a atenção com o que traz o tema do evento. Confira:
Foi dona Nina Rendeira
A mulher que me contou
O causo de duas irmãs
Que ao cangaço enganou
– Depois de capturadas,
E após mil enrascadas –
Com esperteza se safou.
Helenina e Violeta
Eram meninas rendeiras
De esperta inteligência
Gostavam de brincadeiras;
Com a avó teciam rendas
Que faziam de encomendas
Muita peça para as feiras.
E enquanto teciam rendas
Ouviam histórias da avó
Que narrava mil romances
Surgido dos cafundós
A linha tecendo enredos
O pano envolto nos dedos
Enquanto fechava os nós.
(…)
Helenina e Violeta
Viviam lá em Poção
Pertinho do Beberibe
Agreste quase sertão
E foi num dia de feira
Nessa cidade rendeira
Que se deu a narração.
Dizem que um cangaceiro
Do bando de Lampião
Corria por essas bandas
Fazendo assombração
Num cavalo galopando
Dizem que noiva caçando,
O seu nome “Mergulhão”.
(…)
Seguindo agreste dentro
O fio da história segue
Mergulhão vai a cavalo
As meninas vão de jegue
Tecendo rendas e planos
Na viagem que prossegue.
A tarde se estendia
De passagem por Pesqueira
E Violeta assim falou:
“Como sou mulher rendeira
Preciso de um novelo
Desses que se tem na feira…”
Na feira compraram tudo
Que carece pra tecer
Almofada de tecido
Linha, agulha e lacê*,
Que na Renda Renascença
Conforme velha ciença
Servem pros fios entreter.
(…)
E os dias se passaram
As irmãs sempre tecendo
Um ponto aqui e ali
O vestido se fazendo
Ponto torre, sianinha,
Agulha levando linha
Um bordado se cosendo.
(…)
E ninguém sabe ao certo
Onde a linha foi andar
Se Mergulhão desistiu
Se esperou para casar…
Nem mesmo Nina Rendeira
Contadora de primeira
Soube onde foi parar.
Só sabe que essas irmãs
Essas mulheres rendeiras
Tecem ditosos saberes
De valia verdadeira
Violeta e Helenina
Esperteza feminina
Da mulher trabalhadeira.
Fragmentos do cordel “As rendeiras que engaram o cangaceiro”
Autoria: Sabiá Canuto